EXTERNA VILA INGLESA DO SÉCULO IX – CASA DE JANE – DIA
Está nublado em um dia quente de primavera. Árvores balançam ao vento. Um campo com colheita florescendo está a distância. Galinhas e cabras vagueiam.
A mãe (25), uma mulher simples, com longos cabelos castanhos, roupas lavadas em um grande balde de madeira na frente de sua casa. A pequena habitação é feita de madeira, barro e feno. Ela usa um vestido camponês simples. Os gêmeos Jane e Alec (3) corre um atrás do outro em círculos, rindo. Jane e Alec têm olhos azuis e cabelos castanho claro e castanho escuro, respectivamente. Jane usa um vestido simples. Alec usa uma túnica e calças.
Um homem, Aro (20 e poucos anos), aproxima-se do trio. Ele é pálido como giz com olhos pretos e cabelos muito pretos na altura dos ombros. Ele é um charmoso vampiro com mais de 2000 anos de idade. Aro veste traje nobre e muito apropriado. Aro sorri para a mãe e olha para a gêmeos.
ARO
Perdoe-me pela intromissão, mas eles são seus filhos?
A mãe fica de pé. Jane e Alec param de brincar e se escondem atrás ela. Os gêmeos espreitam para fora por ambos os lados. Eles olham para Aro com curiosidade.
MÃE
(protetora)
Por quê? Sim, eles são.
ARO (inclina-se)
Gêmeos, por acaso?
MÃE
Sim.
ARO
Encantador! Eu nunca encontrei gêmeos em todas as minhas viagens.
Aro gesticula para os gêmeos.
ARO (CONTINUA)
Você pode achar isso estranho, mas posso me tornar amigo deles?
MÃE
(surpresa, mas lisonjeada)
Eu – Eu suponho que não há mal nenhum nisso.
A mãe coloca as mãos nas costas dos gêmeos e os cutuca para saírem de trás dela.
MÃE (CONTINUA)
Estes são Alec e Jane.
ARO
Eu nunca vi crianças tão adoráveis.
Aro se ajoelha na frente dos gêmeos.
ARO (CONTINUA)
O prazer é em conhecê-los. Meu nome é Aro.
Aro olha para Alec e oferece sua mão. Alec relutantemente a estende. Aro fecha os olhos por alguns segundos e sorri. Aro lê mentes com um toque. Alec se afasta e se esconde atrás de sua mãe. Aro oferece sua mão para Jane. Ela a estende sem hesitação. Aro novamente fecha os olhos por alguns segundos para ler sua mente. Ele abre os olhos e Jane está olhando para ele. Jane sorri levemente e Aro faz o mesmo.
MÃE
Eu acho que ela gosta de você.
Aro levanta. Ele bate as mãos e os segura, juntos.
ARO
Fascinante! Eles são extraordinários.
Jane analisa Aro atentamente. A mãe dar uma olhada em Alec por trás dela. Quando a mãe olha para Aro, ele se foi.
TRANSIÇÃO DE TELA PARA:
EXTERENA CAMPO DA VILA – DEZ ANOS DEPOIS – DIA
O céu está nublado. É fim de tarde no verão. Um caminho de terra desgastada divide um campo gramado. Lavouras de um lado do campo murcham e morrem. É um lugar calmo.
JANE (13), uma garota linda, pequena, com cabelo castanho claro curto e olhos azuis brilhantes, corre ao longo do caminho de terra. Ela usa um vestido de camponesa. Seus sapatos são bem gastos. Folhas e gravetos quebram sob seus pés enquanto ela corre.
JANE
(respirando com dificuldade)
Jane olha por cima do ombro algumas vezes para ver se a pessoa atrás dela a está alcançando. Ela muda de curso e vira pelo campo em direção a uma grande árvore. Ela toca o tronco com as duas mãos. Jane vira e ri. Seu irmão gêmeo, Alec (13), um menino pequeno com cabelo castanho escuro e os mesmos olhos azuis brilhantes, toca a árvore segundos depois dela. Alec veste túnica e calças de camponês. Ele parece derrotado.
JANE
Eu ganhei novamente!
ALEC
Hey! Você desviou do campo. Isso não é justo.
JANE
Você estava perto dessa vez, Alec. Você quase ganhou.
Jane olha para o pôr do sol coberto de nuvens e semicerra os olhos.
ALEC
Devemos ir para casa logo. Mamãe vai saber onde estamos.
JANE
(concorda)
Os gêmeos caminham para longe da árvore. Os olhos azuis de Jane estão felizes e brilhantes.
CORTA PARA:
EXTERNA VILA – DIA
Jane e Alec caminham pela aldeia. Há habitações camponesas feitas de madeira, feno e lama. Animais vagam ao redor.
Duas mulheres (20) se aproximam de Jane e Alec vindo da direção oposta. As mulheres carregam cestas. Elas vêem os gêmeos, param, sussurram entre si, viram e pegam outro caminho. Os gêmeos as ignoram e continuam andando. Eles estão acostumados com isso.
Um fazendeiro (30) que anda com um cavalo olha para os gêmeos. Ele conforta seu cavalo ansioso quando eles passam. Uma mulher (20) e seu filho (8) entram em sua casa quando o gêmeos passam. Ela bate as pequenas cortinas de madeira fechando-as. Jane e Alec são temidos. Alec está nervoso. Jane olha para Alec como se dissesse: “Está tudo bem.” Ela aperta a mão dele. Na fronteira da cidade Jane vê uma área de flores amarelas a alguns metros fora do caminho.
JANE
Olhe para essas belas flores! Mamãe vai adorar! Você vai na frente.
ALEC
Vou dizer-la que você está a caminho de casa.
Alec abraça Jane e vai embora. Ela sorri. Jane deixa o caminho para colher flores. Ela cantarola. Jane está em seu próprio mundo. Um grupo de três adolescentes estão em pé próximos a uma cerca de madeira. Eles notam Jane sozinha.
Garoto 1 (14), garoto 2 (15) e garoto 3 (16) se aproximam dela.
GAROTO 1
Ora, ora. Olha! Uma das bruxas da cidade.
Jane se assusta e congela no lugar. Seus olhos estão com medo. Ela agarra as flores.
GAROTO 2
Pena que seu irmão a deixou.
Jane tem medo, mas mantém a compostura.
GAROTO 3
Vocês dois estão sempre juntos. Eu acho que você só precisa de alguém para brincar.
GAROTO 2
(ri)
Sim! Temos um jogo para você.
Garoto 2 agarra o braço de Jane e a puxa de volta para o caminho. Ela tenta resistir. Os valentões cercam Jane.
GAROTO 3
Isso pode doer um pouquinho.
Garoto 3 pega uma pedra de tamanho médio e joga. Ela atinge Jane na testa. Ela cai e deixa cair o buquê. O rosto de Jane está sangrando, quando ela olha para cima.
JANE
Por Favor. Pare.
GAROTO 1
Você é a única que precisa ser detida. Você não deveria ter amaldiçoado nossa aldeia para que todas as plantações morressem.
GAROTO 2
(sarcástico)
Oh! Que lindas flores.
Garoto 3 esmaga o buquê com o pé. Jane debilmente estende a mão para as flores, mas desiste. Ela chora.
GAROTO 3
Agora, essas flores são ervas daninhas, como você e seu irmão. Ninguém quer sua espécie vivendo na aldeia. Mas você pode morrer aqui.
Os valentões se aproximam em torno de Jane. Eles jogam pedras, a chutam e riem até que ela fica imóvel no chão.
TRANSIÇÃO PARA:
EXTERNA CAMINHO DA VILA – DIA
Jane abre os olhos, desorientada. A mãe (35) se aproxima às pressas. Ela vê um pouco do que aconteceu com Jane.
MÃE
Jane!
Jane se esforça para sentar-se. O rosto dela, seus braços e pernas estão sangrando, arranhadas e machucadas. As flores estão mutiladas no chão. A mãe se ajoelha ao lado de Jane e a ajuda a sentar-se. A mãe tenta não reagir aos ferimentos de Jane.
MÃE (CONTINUA)
Alec disse que estaria em casa em poucos minutos, mas então você nunca apareceu –
JANE
Eu deveria ter ficado com ele.
MÃE Isso não é culpa sua.
A mãe ajuda Jane a ficar de pé. Ela está frágil e instável por causa da surra. Jane se inclina sobre a Mãe.
JANE
(percebe algo, olha ao redor)
Onde estão os meninos … Eu fiz –
MÃE
Tenho certeza que eles fugiram.
JANE
(pânico)
Eu não me lembro o que eu estava pensando quando eles estavam –
MÃE
Eu sei que você está tentando controlar –
(inquieta, faz uma pausa para escolher as palavras) você mesma. Precisamos chegar em casa. Vai escurecer em breve.
Jane aponta para as flores esmagadas no terreno.
JANE
Eu estava pegando aquelas para você.
MÃE
Como são belas. Minha doce Jane.
Elas dão alguns passos no caminho em direção a sua casa fora da cidade. Jane manca e se apóia na mãe. A mãe nota algo em um lado. É uma das flores amarelas de Jane que caiu. Não está esmagada. A mãe pega a flor, parte um pedaço do caule e enfia no cabelo de Jane. Jane dá um pequeno sorriso para a mãe. Elas continuam andando.
CORTA PARA:
INTERNA CASA DE JANE – CREPÚSCULO
A mesma casa de dez anos atrás – uma grande sala com um chão sujo. Uma pequena janela deixa entrar o que resta da luz do dia. Feno está espalhado no chão. No canto há camas feitas de sacos de serrapilheira recheados com feno. Uma panela aquece no fogo. Jane se senta em uma mesa de madeira. Uma bacia de madeira com trapos manchados de sangue está ao lado dela. As pernas e braços de Jane estão enfaixados. O corpo dela está machucado. A flor amarela ainda está no cabelo de Jane. Alec se senta em uma cama. A mãe limpa um arranhão no rosto de Jane. Jane estremece.
MÃE
A crueldade é parte da natureza humana. Não sei o quanto mais você e Alec podem suportar. As pessoas nesta aldeia os culpam e os punem por qualquer coisa que der errado.
JANE
Essa não é a única razão. Estamos –
MÃE
(inquieta, quer acabar com o discussão)
Jane. Já chega!
Jane e Alec fazem contato visual. A mãe caminha em direção a um balde de madeira e despeja a bacia de trapos ensanguentados nele.
MÃE (CONTINUA)
(assustada, baixa a voz)
Nós não falamos sobre isso.
TRANSIÇÃO PARA:
INTERNA CASA DE JANE – NOITE
O pai de Jane (35) entra pela porta da frente. Ele é ex-soldado franco em forma, mas agora é um agricultor. Ele está cansado do aldeões causando confusão com seus filhos. A mãe senta em um banco na mesa, consertando um vestido. Jane e Alec se sentam em uma cama. Velas iluminam o quarto. O pai vê feridas de Jane.
PAI
Jane!
MÃE
(levanta)
Ela encontrou com alguns meninos no caminho para casa –
O pai entra em uma erupção de raiva pois os meninos machucaram sua filha.
PAI
Isto já foi longe demais! Esta cidade! Essas pessoas! Eles precisam ouvir a voz da razão.
MÃE
(nervosa)
Por favor, não cause problemas. Isso poderia sair pela culatra e afetar Jane e Alec.
PAI
(voz cortada)
Então, eu não posso fazer nada enquanto as pessoas nesta aldeia atormentam nossos filhos? Os acusam de bruxos –
MÃE
(balança a cabeça, cobre a orelhas)
Nunca diga essa palavra.
Um estrondo na porta da frente pára abruptamente sua discussão.
HOMEM 1
Abra essa porta! Nós sabemos que vocês estão aí!
O pai abre a porta para três fazendeiros grandes e musculosos.
Homem 1, homem 2 e homem 3 (30), os líderes da caça às bruxas de Jane e Alec, estão com raiva. Homem 2 tem um machado. Aldeões estão do lado de fora, segurando tochas e machados. O homem 1 empurra o pai e a mãe. Ele procura por Jane.
HOMEM 1
(para Jane)
Onde eles estão?
MÃE
Quem?
HOMEM 2
Os nossos filhos!
Homem 2 invade a casa antes que o pai possa detê-lo. O homem 3 entra atrás do homem 2. Os homens estão fora de controle.
HOMEM 2 (CONTINUA)
Eles foram cortar lenha e não voltaram. Sabemos que eles estavam com aquela bruxa mais cedo hoje!
O homem 2 aponta para Jane. Ela se esforça para ficar em pé. Alec ajuda ela.
MÃE
Nossa filha foi agredida por seus garotos hoje. Basta olhar para ela!
HOMEM 2
Então ela teve um motivo para machucá-los!
(fumegante, para Alec)
E tenho certeza de que ele tem participação nisso, também.
PAI
Seus garotos estão provavelmente apenas brincando na floresta!
HOMEM 1
Nós temos procurado para eles desde o anoitecer. Em pé e a cavalo. Nossos filhos estão desaparecidos e é preciso responder por isso!
Homem 1 aponta para Jane. O homem 3 encara a mãe. Jane não gosta disso.
HOMEM 3
Você vai pagar pelos atos perversos de seus filhos.
JANE
(alto, comandando)
Vocês são os iníquos!
Todo mundo olha para Jane, não esperando que ela falasse. Seus olhos estão escuros e intensos quando ela olha para o homem 3. Ela já não aparece jovem e doce.
MÃE
(repreende, temendo que a ira de Jane possa desencadear seu poder)
Jane!
PAI
Minha filha está certa. Saiam!
Pai não consegue mais ouvir. Ele agarra o homem 1 pela camisa para jogá-lo para fora. O homem 3 investe contra o pai. O pai luta, mas eles o puxam da casa. O homem 2 ameaça o pai com o machado. Ouvimos socos e brigas. A mãe vê o que está acontecendo com o pai do lado de fora e grita. Os homens 4 e 5 e #(40) arrastam a mãe para fora da casa. Ela chuta e revida. Ela está desesperada para proteger as crianças, embora seja inútil.
MÃE
Jane! Alec! Corram!
(gritos)
Os gêmeos estão presos no interior. Agarram-se quando o jovem 1, o jovem 2, o jovem 3 e o jovem 4 (16) entram na casa. Eles agarram Jane e Alec. Os jovens se deliciam-se com isso. Os gêmeos lutam. Apesar de seus machucados, Jane luta bem. A flor amarela cai do cabelo de Jane e pousa no chão. Os jovens levam Jane e Alec de sua casa. Os gêmeos veem os homens arrastarem o pai de longe. A mãe está deitada no chão, imóvel e sangrando.
JANE
(grita em desespero)
Não!
Jane está em agonia. Sua mãe e seu pai pagaram o preço por serem seus pais. Jane não é mais a menina intimidada do início. Seus olhos estão cheios de raiva.
CORTA PARA:
EXTERNA VILA – NOITE
Uma multidão vingativa fica em torno de uma fogueira apagada. A lua está envolta por detrás das nuvens. Alguns homens seguram machados, outros têm tochas – a única fonte de luz. Mulheres sussurram uma para outra. Jane e Alec estão na frente dos moradores, amarrados a estacas em uma plataforma acima da pilha de madeira. Alec está numa sombra. Jane luta contra as cordas, com uma expressão desafiante. Ela está enfurecida porque eles mataram sua mãe.
ALDEÃO
Bruxos! Queime-os!
ALDEÃ
Livre a nossa aldeia de sua maldade!
MULTIDÃO
(aplausos)
Um carrasco (20) fica entre a plataforma de madeira e a multidão. Ele é encorpado. Sua voz é profunda e perversa. Ele aponta para os gêmeos.
CARRASCO
Estes dois foram acusados de feitiçaria.
(para o público)
O que vocês dizem?
MULTIDÃO
Culpados! Culpados!
CARRASCO
A cidade escolheu. Esta presença fétida deve ser destruída para salvar nossa aldeia!
A mãe aparece! Ela cambaleia, ferida, em frente ao multidão. Ela segura a flor amarela de Jane. A mãe tenta alcançar seus filhos, mas dois conterrâneos (20) surgem na multidão para detê-la. Eles puxam-na de volta para a multidão. Ela se esforça e derruba a flor. Ela fica esmagada.
MÃE
(frenética, grita)
Não! Meus filhos não! Por favor!
Jane reage à voz de sua mãe. Ela está viva! Mas Jane sabe que sua mãe vai ver o que está para acontecer. Ela odeia as pessoas da cidade. Os olhos de Jane incendiam-se com raiva. Os três homens que arrastaram o pai para fora da casa o contém no lado oposto da multidão. Eles trouxeram o pai para assistir seus filhos morrerem. O pai aparenta ter perdido uma luta. Eles o empurram em direção ao carrasco. O pai cai de joelhos.
PAI
(para o carrasco)
Eu estou te implorando! Não!
Sem se abalar pelos apelos da mãe e do pai, o carrasco acende a pira com uma tocha. Os homens 1, 2 e 3 sorriem. O pai está com o coração partido e derrotado. Os aplausos da multidão crescem.
A mãe se liberta da multidão. Ela tropeça ao lado do pai. Ela se ajoelha e chora. Ela alcança os seus filhos, inconsolável. Jane vira a cabeça em direção a Alec. Ele está em choque. As feridas de Jane sangram através de suas ataduras.
PAI
(agarra a bainha da camisa do carrasco)
Por Favor! Poupe-os!
O desafio de Jane desaparece quando ela fica desorientada. Sua visão da multidão está embaçada mas ela vê Aro caminhando em sua direção. Ela se lembra de Aro, de sua visita há uma década atrás e sabe por que ele está lá – para salvá-los. Jane consegue um sorriso imperceptível. Aro sorri.
ARO
(olha para gêmeos)
Eles são extraordinários!
As chamas atingem as pernas de Jane e Alec. Jane sente a dor da queimação, ela acabará provocando outras. Ela tenta lutar contra isso, mas uma última lágrima humana rola pelo seu rosto. O fogo ardente reflete nos olhos de Jane.
CORTA PARA UMA TELA PRETA
FIM
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